26 de maio de 2011

O que vem primeiro: obesidade ou depressão?



Aproximadamente 30% das pessoas que procuram tratamento para emagrecer apresentam depressão.

A idéia que temos de nós mesmos é um grande impulso para o sucesso ou para a derrota. Os obesos carregam "o peso" de que não são capazes de vencer a guerra contra a balança, principalmente após inúmeras tentativas frustradas de emagrecer. Além disso, manter o bom humor frente a qualquer doença crônica é muito difícil e é justamente o que ocorre com a obesidade. Na maioria das vezes, a doença vence o paciente pelo cansaço e impõe um enfrentamento com limitações, fraquezas e até com o próprio desconhecimento de como tratar individualmente cada caso de obesidade, já que eles são tão diferentes entre si.

Para muitos especialistas, não há dúvida quanto a associação das duas doenças. Aproximadamente 30% das pessoas que procuram tratamento para emagrecer apresentam depressão. Além é claro dos inúmeros casos de melancolia e tristeza em lidar com algo tão difícil, gerado pela rotina de ter que lutar contra a balança.

As primeiras dietas são sempre coroadas de êxitos. A perda de peso que ocorre na maioria das primeiras tentativas é facilmente compreendida pelo maior engajamento dos pacientes nas dietas propostas e nas várias mudanças de estilo de vida que eles se dispõem a fazer. Como, no entanto, a manutenção de peso ainda é o calcanhar de Aquiles dos tratamentos para a obesidade, os pacientes voltam a engordar. E novas dietas são implementadas trazendo à tona a noção da fragilidade da perda de peso.

A associação da obesidade com a depressão, principalmente entre jovens, traz consigo o fantasma dos transtornos alimentares. É mesmo muito preocupante o grau de insatisfação corporal entre os adolescentes em todo o mundo. Mais de 25% dos meninos e 50% das meninas desejam perder peso, incluindo estatísticas de povos orientais. O mais impressionante de tudo isso é que 81% deles são considerados de baixo peso ou de peso normal e 20% deles recorrem a métodos inadequados para alcançar seus objetivos de peso ideal, como dietas restritivas, medicamentos para emagrecer e a prática de vômitos autoinduzidos.

A pergunta "O que vem primeiro: a obesidade ou a depressão?", acredite, é muito difícil de ser respondida. Muitas vezes, a depressão leva à obesidade, principalmente quando a depressão é acompanhada de grande ansiedade e compulsão alimentar. As pessoas comem não somente por fome. Comem por prazer de comer, e, muitas vezes, para compensar o desprazer e a tristeza. Comem como forma de presentear-se. Além disso, uma parte dos medicamentos utilizados para o tratamento da depressão leva ao ganho de peso e isso não pode ser desconsiderado na avaliação desses pacientes.

Os sintomas depressivos também podem estar mascarados pelos sintomas da obesidade. É comum entre os obesos sinais de apatia, sonolência, dores no corpo, desânimo e fadiga, muito frequentes também nos quadros depressivos. Um dos sintomas mais frequentes da depressão é o desânimo, o que dificulta qualquer atitude em relação à prática de atividade física, que poderia mudar o prognóstico de ambas as doenças.

O psiquiatra Wolme Cardoso Alves Neto, afirma que este é um tema bastante polêmico e controverso, motivo de grande discussão no própio meio científico. "Na realidade, é uma grande simplificação dizer que a obesidade ‘vem da depressão’. Não há dúvida que a obesidade é uma consequência de um problema de ordem psíquica, mas dizer que ‘é da depressão’ seria equivocado", avaliou o especialista, informando que o próximo manual diagnóstico que codifica as doenças psiquiátricas deverá incluir a obesidade como uma doença em separado (hoje é dado o diagnóstico de Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, em geral para a obesidade mórbida).

Para o Dr. Wolme, trata-se de um problema bastante complexo e heterogêneo, sem uma causa única que serviria para todos. "Várias alterações biológicas como nível de grelina e leptina (hormônios relacionados à fome e à saciedade, respectivamente) também estão sendo implicados. Claro que uma pessoa obesa tem uma chance muito maior de ter algum distúrbio em sua saúde mental que a população não-obesa e, eventualmente, também contribuindo para piorar um distúrbio de humor já existente como o Transtorno Depressivo. De fato, então, é uma via de mão-dupla, como sempre", concluiu o psiquiatra.


Postado por,
Fernanda T. Lima - Psicóloga

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